Vou contar um pouco do que acontece no mês do Carnaval de uma brasileira que mora fora.
Para começar, durante o mês inteiro, todos os portugueses perguntam: Vc não vai passar o Carnaval no Brasil?????? E eu respondo: Não...Logo vê-se que os seus rostos mudam e paira no ar um sentimento profundo de pena...E logo comentam bem baixinho: “Ai que dó, você deve estar se sentindo péssima”. E eu vou responder o que? Não, ao contrário, me sinto é feliz de não estar naquela zona e não ter que assistir 35 horas seguidas de desfiles na TV.
Então vem outra concepção geral igualmente interessante, os gringos acreditam que a gente já nasce sambando, que é tipo genético, sabe? Quando vc fala que não sabe sambar eles acham que é charminho, preguiça, vergonha ou algo do género. Não conseguem entender que tem pessoas, como eu, que simplesmente não conseguem, não têm alongamento ou prática suficiente.
Bom, aí vem uma terceira constatação, o fato deles pensarem que desfilar é a coisa mais glamurosa e incrível do universo. Sempre me perguntam: Vc já desfilou, né?! E eu respondo que sim, por acaso já desfilei em SP, só pela graça mesmo. E, entusiasmados me pedem para ver fotos. Quando mostro é uma decepção enorme, eles estão esperando ver alguém em cima de carros alegóricos com lantejoulas no corpo cantando e dançando sem parar. E quando olham as fotos descobrem que só as Maria-Chuteiras e ex-bbbs desfilam assim, o povão mesmo está sempre com fantasias tão feias, gigantes e estranhas que não dá nem para dançar, só dá para ficar rodando no próprio eixo.
Essas coisas me fazem pensar...Imagina só, uma portuguesinha resolve ir para o Rio, encomenda uma fantasia daqui por 5oo euros. Chega lá e vê que comprou uma fantasia de papagaio que é tão grande que ela não consegue pegar um táxi, tem que ir de ônibus até o desfile.
Chega na concentração e já está com a pele toda assada daquela roupa que não cabe em lugar nenhum. Vê rápido que precisa ficar do lado da ala das pessoas vestidas de abacaxi. E assim vai ficar por mais algumas horas.
A fantasia, que é inteira fechada e tem um capacete (como sempre), começa a deixá-la com muito calor e ela resolve tomar umas cervejinhas. Ok, deu vontade de fazer xixi, o que fazer? Não tem nenhum banheiro por lá, exatamente por isso que muitas pessoas estão de fraldas geriátricas. E fuja de quem não está, pq se reparar esta pessoa deve estar fazendo xixi no pé dos outros no meio da rua. O chão fica uma mistura de xixi, cerveja, sujeira e pedaços de plumas, uma delicia!
Depois de 2 horas na concentração ela já decorou um pedacinho do samba enredo e descobriu que para cantar samba é só dividir as sílabas da música. Por exemplo: Naveguei, NA- VE-GUEI, ou Lá vou eu...LÁ-VOU-EU!!!
Tá quase na hora e o espírito de união é de 100%, ou seja, estão todos tão grudados que respiram o mesmo ar. Suor com suor, fantasia com fantasia e, quando o portão abre, passo com passo. Ela deve pensar: poxa, como vou mostrar todo o meu molejo aqui? Tenta pegar um espacinho só para ela e quando consegue um 1 metro quadrado a câmera da Globo passa por perto e todas as pessoas se atiram na sua direção para ver se conseguem ter os seus 15 segundos de fama.
Opa, a pista acabou...
Como dizem: "Todo Carnaval tem seu fim"
Como eu digo: Ainda bem!
A Portuguesinha volta andando para o hotel e no caminho ainda ouve um último samba, bem de raíz, aquele que é a marca registrada do Rio. O ladrãozinho de 12 anos do seu lado diz:
"Ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí...
Ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí..."
2 comentários:
ahahha... Ainda bem que eu fiquei dormindo e curtindo uma piscina durante esses 4 dias...:P Sim, porque no Brasil, ninguém trabalha na semana do Carnaval... :P
Ah eu ainda vou desfilar na sapucaí!
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