quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O Restelo e o Careca.




Esse fim de semana fui em 2 grandes atrações que poucos turistas conhecem, mas que deveriam estar em qualquer guia de Portugal.

Podemos caracterizar Lisboa como uma cidade antiga. Aqui faltam prédios altos, complexos comerciais, grandes avenidas, enfim, falta tudo o que define uma cidade moderna. E esse é o seu charme, os prédinhos de azuleijo, muitas vezes caídos, as ruas tortas, esburacadas e o céu mais lindo do mundo fazem desse lugar, único.

Eu acho Lisboa uma graça, mas as vezes me pergunto como seria viver para sempre num lugar sem muito luxo e avanços .Vejo velhos subindo 3 andares de escada todos os dias carregando compras, vejo amigos tendo que sair das suas casas às pressas quando chove, vejo pessoas que optam por não ter carro por não terem aonde estacionar...Enfim, são mil exemplos de como a vida aqui, com os anos, pode ficar ainda mais difícil.

Então, depois de pensar muito achei a solução: Ficar rica e viver no restelo :)

O Restelo é uma parte da cidade 100% diferente do resto. É um lugar lindo, cheio de árvores, casas enormes, requinte, onde a riqueza paira no ar e as pessoas são até mais bonitas. Parece a parte residencial dos Jardins, mas com muita segurança.
Eu estou apaixonada pelo bairro, mas não conheço ninguém que more lá...Talvez esteja escolhendo mal minhas amizades...hehehehe...Então se você tem uma casa no Restelo e lê o meu blog, por favor, me convide para um cafezinho e um croissant do Careca.

O croissant do Careca é mais uma daquelas lendas urbanas de Lisboa, considerado "o melhor croissant de Portugal" é famoso não só pelos ricos, mas por nós pobres também.

Fui conferir o seu gostinho neste último fim de semana. Assim que chego na padaria vejo uma fila gigante e sinto um cheirinho dos céus. Estávamos todos lá, na busca do croissant sagrado. 5 minutos, 10 minutos, 20 minutos e nada de me atenderem...Estava um caos, todos suando, gritando e desejando aquele pedaço de pão. Tá vendo como é coisa de pobre também, duvido que rico fica naquela fila se esbofeteando com as gentalhas, quando eu tiver dinheiro e morar por lá vou pedir croissant delivery.

Bom, quando eu já estava quase desistindo vejo um outro balcão totalmente vazio, fui até lá na cara de pau e perguntei se podia fazer o meu pedido. A mulher muito simpática disse que sim, mas só se fosse para levar para casa, aceitei na hora, pedi os últimos 8 croissants da noite e fui embora feliz.

Porém a minha felicidade durou pouco. Dica do dia: tomar cuidado com os croissants quentes do Careca, se comer muitos dá dor de barriga...

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

As 3 fases da Saudade.

Eu já estou aqui há 2 anos e é engraçado que com o passar do tempo desenvolvemos vários graus de saudades.

Grau 1 - Saudade Saudosista

Acabamos de chegar e tudo nos faz lembrar dos amigos e da família...É aquela blusinha que a Pê ia gostar, aquela piada que só a Amanda ia rir, aquele comentário malvado que tem a cara da Mari...Tudo ainda é leve, quando a sua memória busca bons momentos você até fica com um sorrisinho de canto de boca.

Grau 2 - Saudade Sofrida

A saudade que até então era super numa boa vai virando algo dolorido e até físico...Muitas vezes precisamos de um abraço de mãe, um beijo do namorado, uma risada em conjunto com amigas de infância, precisamos até sentir aquele cheiro de casa...É nesta fase que todo mundo sofre muito. Você começa a perceber uma transição muito forte, de repente as pessoas começam a te esquecer, não te escrevem mais com tanta freqüência, esquecem de contar novidades importantes,não te ligam no seu aniversário...Enfim, vc começa a ser apagada daquele mundo que tanto adorava fazer parte e isso é uma sensação horrível.

Grau 3 -Saudade Simples

Depois de muitas noites de insônias regadas a lagrimas, você fica madura, pára de sofrer, afinal foi você que escolheu mudar e tem que ser forte o suficiente para lidar com isso...É a partir deste segundo de reflexão que você entra na terceira fase, fase que estou. É aqui que as pessoas começam a sentir saudades de coisas extremamente banais, coisas que faziam parte do seu dia-a-dia como vírgulas e você não se dava conta das suas importâncias.

Exemplos de coisas que eu nunca percebi que eram incríveis:

Gente, eu morro de saudades de piscina. Vcs acreditam que em mais de 2 anos eu não fui em nenhuma piscina aqui? Em SP todo prédio tem piscina e aqui, nunca vi nenhum...

Garagem. Outra coisa básica que aqui é tão rara. Como era bom estacionar o carro na minha vaguinha e apenas pegar o elevador...Ai,ai,ai...E Vallet então? Vou para o Bairro Alto de carro e demoro 30 minutos para estacionar um smart...tsc,tsc,tsc

Serviço de Delivery. Tem coisa melhor do que esperar tudo chegar na sua casa?

Pagamentos em 10 vezes sem juros. Eu vivia dividindo os meus sapatos em muitas vezes sem juros, proporcionando para mim mesma uma satisfação instantânea quase indescritível.

Porteiro. Que é uma das melhores invenções do mundo...

São tantas coisas...Isso sem contar com hamburguer com creme de milho ou pizza de catupiry.

Ainda não cheguei no grau 4...Mas quando chegar eu explico para vocês como é que é.

Beijos com saudades de tudo e de todos.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Caso Maitê Proença.

Um texto que não é meu, mas também assino embaixo.

LISBOA - Acordo com telefonema de amigo indignado. Verdade. Tenho amigos indignados, mas prometo resolver o assunto em breve. "Viste o vídeo da Maitê Proença?", perguntou ele, como se a Alemanha nazista tivesse invadido a Polônia novamente.

Esfreguei os olhos, despedi-me do sono e procurei na memória o nome "Proença, Maitê". Após alguns segundos de esforço, encontrei um velho arquivo da minha adolescência. E respondi: "Mas que vídeo, rapaz?"

Ele explicou. A atriz Maitê Proença esteve em Portugal em 2007. Gravou um vídeo para o programa "Saia Justa", da Globo GNT. No vídeo, Maitê passeia pela terrinha e goza (no sentido português do termo) com a burrice dos lusitanos.

Os lusitanos não gostaram do vídeo. Lançaram petições na internet. Exigiram pedidos de desculpas, como se o Palácio do Planalto tivesse bombardeado o mosteiro dos Jerónimos.

Maitê entrou no baile e pediu desculpas: ela ama Portugal, ela ama os portugueses, ela jamais pensou em ofendê-los, e bla bla bla. De nada serviu. Os jornais e as televisões fizeram render o peixe e existem cartazes com o rosto de Maitê pela cidade de Lisboa, como no antigo faroeste. Invento, claro, mas vocês percebem a idéia.

E o vídeo? Acabei por assistir ao dito cujo, ainda em pijama, e pasmei com a insignificância do mesmo. Insultuoso? O único crime de Maitê Proença foi a sua incapacidade para produzir humor: com a exceção do momento em que a atriz brinca com o número de uma porta pregado ao contrário, o resto é infantil e entediante. Pena. Sempre gostei de piadas de portugueses. Dizem que nas piadas existe um fundo de ternura, ou de rebeldia: a atitude própria de um adolescente perante os avós conservadores e atávicos. Talvez.

Mas gosto das piadas de portugueses porque elas transportam, Deus me perdoe, um eco de verdade. Eu sei. Eu faço parte da espécie. Eu convivo diariamente com ela: com o atraso, a mesquinhez, a inveja. O provincianismo. E não existe português vivo que não tenha com Portugal essa mesma relação obsessiva, feita de crítica, sarcasmo e autofagia.

Eis o problema: se o vídeo tivesse sido feito por um português, os outros portugueses aplaudiriam. Bater na pátria é mais do que hábito; é a nossa identidade cultural.

Acontece que o vídeo foi feito por uma estrangeira. Pior: por uma brasileira. Um pormenor que altera o quadro. Duplamente. Primeiro, porque mexe com os seculares complexos de inferioridade dos portugueses: o brasileiro, como diria o Eça, pode ser um português dilatado pelo calor. Mas o Brasil é também um Portugal dilatado pela diversidade, pela riqueza e pelo gigantismo. Portugal em ponto grande. E com futuro.

Mas existe um segunda explicação para o ódio público: o vídeo de Maitê Proença foi apenas um pretexto, e um bom pretexto, para que o português típico pudesse descarregar os seus preconceitos típicos sobre os brasileiros. Esses preconceitos existem na sociedade portuguesa. E com a vaga recente de imigração brasileira mais pobre, pioraram e azedaram. Não vale a pena revisitar o cardápio de pensamentos funestos. Basta caminhar por Lisboa. Olhar. Escutar. As piadas sobre portugueses ainda têm piada. A xenofobia dos portugueses sobre os brasileiros não tem piada alguma.

Antes de assinarem petições ou pedirem a cabeça de uma atriz de novelas, os portugueses indignados deveriam perguntar seriamente quando foi a última vez que trataram um brasileiro como "ladrão" e uma brasileira como "prostituta". Tenho a certeza que a indignação passa depressa.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Fudeu, falei um palavrão.


Um dia normal de trabalho numa agência de publicidade de São Paulo:

Diretor de Arte: Puta que pariu, o Diretor não aprovou a campanha de novo! E isso que tava do caralho, uma puta idéia!
Redator: Porra! Não acredito...Foda-se ele, vou colocar no meu portfólio mesmo assim.

E depois vem o Português e diz que o Brasileiro fala palavrão demais... Alguém explica para eles que nada disso é palavrão, são apenas expressões de intensidade, ok?!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Por que Deus fez o inverno da Europa?

                                                        ( E viva as camadas de roupa)

O frio está chegando...Eu sei que você deve estar pensando que perto do resto da Europa aqui é quase um oásis, mas calma lá, vou tentar explicar pq não é tão fácil assim.

Imagina um inverno de uns 5 graus, ok? Pensa em como seria o seu dia-a-dia...Você acorda e a sua casa está quentinha, afinal tem um aquecimento central bárbaro, aí vc toma um banho delicioso, coloca uma roupa linda de inverno, igual aquela que vc vê em filme de Hollywood, um casaco chique, uma bota linda e um chapéu com estilo. Bom, pega o seu carro, liga o ar quente e vai cantando Feist até o trabalho. Lá estão todos aquecidos dividindo um bolo quentinho, muito humor e histórias do fim de semana.

Agora volta para a realidade de Lisboa. A minha realidade.

Eu acordo e a casa está um gelo, já que apenas 10% da população aqui tem calefação, e é claro que eu não faço parte dessa camada social. Para compensar tenho aqueles aquecedores de colocar na tomada, sabe? Tenho 2, mas se usá-los ao mesmo tempo cai a energia...Uma desgraça. Assim,levo um deles para o banheiro, que parece uma pedra de gelo. O banheiro tem 2 m por 2 m, então a chance de pegar fogo é grande, mas ok, melhor do que passar frio no boxe, afinal aqui todo mundo toma banho de chuveirinho...Imagina o sofrimento e o tempo que se leva para lavar o cabelo.

Saio do banho e coloco a maior quantidade de roupa que eu tenho no armário, vou colocando, uma em cima da outra, até ficar gordinha e ter dificuldade de locomoção. Cadê o glamour? Ficou apenas em Hollywood. É tanta roupa que mulher não precisa nem usar sutiã, não dá para ver nada...

Vou a pé para o trabalho pensando no frio que estou passando e na rua esburacada que estou andando. Então pergunto para mim mesma: Será que vai nevar e a cidade vai ficar linda? Não, aqui não neva, não vai ter diversão com bonecos de neve e esqui....Que deve ser a única coisa boa do inverno.

Assim, chego no trabalho e encontro mais 15 com frio, dividindo um café quentinho, muito mau-humor e histórias de como o verão é bom...e está longe de chegar.